sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O Mergulho na Calçada e a Valorização do Braço Esquerdo

           E eis que estava eu, toda lalarilante voltando da minha caminhada diária, quando meu pé virou. Me torci de revesguede, meio que catando cavaco. Tendei segurar em alguma coisa, mas não tinha nada a que eu pudesse me agarrar nesse momento de pré-vexame. Não teve jeito. Resolvi abraçar o momento e mergulhar na calçada no maior estilo César Cielo!
            Vou dizer uma coisa: uma barrigada na piscina dói bem menos. Me levantei devagar. Estava preocupada com minha coluna (cultivo uma hérnia de disco com muito amor e carinho já há alguns anos). Movimentei o tronco bem de leve, tentando ver se a coluna ainda existia. Sem problemas! Só a palma das minhas mãos e os joelhos que estavam ardendo um bocado.
            Acabou que o vexame foi discreto, a rua estava praticamente deserta e eu estava de óculos escuros o que ajudou a esconder as poucas lágrimas de raiva-humilhação-dor-vergonha. Fui para casa fazendo cara de paisagem. Como se o estado empoeirado da minha roupa, o joelho ralado e o cabelo desgrenhado fossem a última moda em Paris.
              Assim que o corpo esfriou, pude notar que não conseguia levantar o braço esquerdo e minhas costelas estavam doendo. Resumindo: fui no médico e descobri, para meu alívio, que as costelinhas estavam bem. No entanto, o médico me proibiu de mover o braço esquerdo. Pensei aliviada "Que bom que é o esquerdo". Achei que sendo destra, não ia ter problemas. Tss, tss, tss. Ledo engano.
              Nesses últimos dois dias, tenho descoberto que o braço direito não está com essa bola toda não. Mas não é só isso. Estou achando muito interessante essa nova perspectiva. As pequenas rotinas diárias adquiriram um tom de problemas de lógica. Como vestir ou tirar a roupa? Como cortar a carninha? Como cuidar dos cabelos? Como lavar a louça? arrumar a cama? Tudo agora exige "uma nova técnica".
             Estou descobrindo com isso tudo a utilidade do braço esquerdo. A maior parte dos movimentamos com o corpo que fazemos é tão mecânica que não percebemos a utilidade das partes. Mais do que isso, não percebemos COMO fazemos as coisas. A questão para mim não é o cliché de dar valor quando não se tem mais. A adaptação é um processo muito interessante! Lógico que muito provavelmente eu só penso assim porque meu estado é momentâneo. Acho que o que realmente quero dizer é: "Valeu braço esquerdo!"

3 comentários:

  1. Stella,
    eu fiquei aqui tentando imaginar a cena da sua queda. Foi inevitável rir. Não da situação, mas da sua narração. Ficou espirituoso.
    Falo de cadeira... minha mão esquerda não presta desde que eu tinha uns 8 anos de idade e caí em cima dela. Perdi alguns movimentos, mas me acostumei e nós vivemos em harmonia.
    Melhoras pro seu braço esquerdo. Ser valorizado (mesmo que nessas circustâncias) é tudo de bom.
    Bjo!

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  2. Muito obrigada, Nine! Meu braço esquerdo ficou muito emocionada com o se apoio!

    bjos

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