segunda-feira, 20 de junho de 2016

Morte na família

         Recentemente perdi meu pai. Como ele já estava doente há algum tempo, não foi um choque. Diria até que a morte foi algo que bem-vinda, já que o contrário significaria um sofrimento maior ou uma pseudo-vida de hospital ligada a equipamentos. 
        (1º round)  O difícil não é lidar com a morte. A morte é natural. O difícil é lidar com tudo que a cerca. Arranjos funerários, por exemplo.(2º round) Tá aí uma coisa que é surreal. Você acaba de perder alguém (no meu caso, havia acabado de perder meu pai, meu lastro, um dos meus pilares de sustentação, uma das minhas primeiras referências de sociedade) e logo em seguida, antes mesmo do corpo esfriar e das lágrimas darem trégua, você se vê correndo pelas ruas da cidade para providenciar o atestado de óbito. Em seguida, você segue para a funerária onde precisa decidir qual urna. Como se você soubesse qual escolher! Modelos de urnas não é exatamente um dos trending topics do jantar em família. Também precisa assinar contratos que descrevem todo o processo de embalsamamento. Leitura para Poe nenhum botar defeito. Flores, homenagens, lembranças de sétimo dia...
        (3º round) Velório. Quando seu pai morre na noite anterior, você não dorme. Você sabe que terá de enfrentar um velório na manhã seguinte. Mas a mente não desliga. Você não dorme. Não é que você durma mal. Você simplesmente e absolutamente não dorme. 
        E vem o velório. As pessoas começam a chegar. E o que deveria te trazer consolo, não traz. Palavras de pessoas prestando homenagem não te deixam feliz ou orgulhosa. Você se vê balançando a cabeça fingindo concordar ou estar grata. Mas, a verdade é que tudo é um grande teatro. Com raras exceções, dedicadas àquelas pessoas que realmente conheciam o falecido e/ou você, tudo não passa de um grande teatro. Pessoas com quem você não tem intimidade te abraçam forte e demoradamente quando você não quer ser tocada. Palavras infindáveis de uma religião que você não segue. Teatro. A intenção das pessoas é boa, eu sei. Mas a verdade nua e crua é: em um velório de alguém que você ama, você não dá a mínima! Se o Papa tivesse aparecido para prestar suas últimas homenagens e oferecer seus sentimentos, eu teria dado uns tapinhas em suas costas, empunhando meu sorriso falso e balançado a cabeça fingindo escutá-lo. 
          (4º round) O momento de lacrar o caixão e enterro. As pessoas esperam que você dê uma última olhada. Para quê? Alguém pode me explicar? Aquele corpo que jaz no caixão não é meu pai. Meu pai já havia partido horas antes. No caixão, somente uma casca de mármore. Fria e dura, com um semblante vazio e sem alma. Por que me despedir de uma casca sendo que o que me interessava e que fez parte da minha vida sempre foi o recheio? Por que?
         (5º round) O resto da vida. Meu pai morreu...
                           

11 comentários:

  1. Vc resumiu tudo. Em poucas palavras, toda a dor do entorno, dos rituais, das pessoas. E o 5º round, tão simples, ali, nem uma linha completa de texto, mas tão forte, tão permanente, tão "pra vida toda"...

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  2. Minha ideia no 5º round era deixar em aberto. Até porque, estou só no comecinho dele.

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  3. oi, Stella
    Só pra constar... nada muda sua dor nem a agonia do 5º round.
    Mas eu contratei um plano de assistência funerária, pra evitar pelo menos essa parte de atestado de óbito, urna e afins. Já há alguns anos. Ainda não precisei, mas pelo menos desses rounds eu escapo.

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  4. Oi, Anabel!
    Eu também tenho um plano funerário. Mas mesmo assim, é preciso providenciar o atestado e escolher urna e etc. e tal. Eles até te acompanham, mas é alguém da família quem tem de fazer essas coisas. Claro que foi bem rápido e o serviço que a Pax de Minas ofereceu foi ótimo. De qualquer forma, concordo com você: esse round dá para escapar. Os outros, mesmo que você não participe, o sentimento te pega. C'est la vie!

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    1. No meu caso, onplanonprovidencia o atestado, e a urna já foi escolhida na contratação. É tipo "escolha o padrão" escolhi o meio termo, seja lá qual for ele. Quanto onayestado, acompanhei uma amiga que perdeu a mãe. Eles cuidaram dr tudo inclusive sindical no cemitério, já queba família dela não tinha jazigo próprio. (outro round, se não tiver...)
      Beijo...

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    2. Perdoe os erros de digitação. Sem óculos...

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    3. Perdoe os erros de digitação. Sem óculos...

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    4. No meu caso, onplanonprovidencia o atestado, e a urna já foi escolhida na contratação. É tipo "escolha o padrão" escolhi o meio termo, seja lá qual for ele. Quanto onayestado, acompanhei uma amiga que perdeu a mãe. Eles cuidaram dr tudo inclusive sindical no cemitério, já queba família dela não tinha jazigo próprio. (outro round, se não tiver...)
      Beijo...

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  5. Também já perdi meu pai, minha mãe e dois irmãos. É dolorido demais! Meus sentimentos, Stella!

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  6. Obrigada, Celina! De fato, não é fácil! Mas, graças a Deus, temos a inspiração e a palavra para nos ajudar a expressar a dor.

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  7. Obrigada, Celina! De fato, não é fácil! Mas, graças a Deus, temos a inspiração e a palavra para nos ajudar a expressar a dor.

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